Porque é tão difícil ultrapassar o vício pela comida?
O cérebro humano é uma estrutura complexa que evoluiu ao longo dos milhares de anos. Contudo, comparado com os desenvolvimentos industriais dos dois séculos passados, o nosso cérebro não mudou muito.
Há uma parte específica do cérebro chamado sistema de recompensa, cujo objetivo principal é apoiar o comportamento que é benéfico para a sobrevivência e prosperidade, proporcionando-nos prazer e fazendo com que nos sintamos bem.
Sempre que fazemos algo que é benéfico para a nossa sobrevivência, o nosso cérebro produz uma sensação de prazer a fim de assegurar que repetimos a ação benéfica e assim nos comportemos de forma a assegurar a nossa sobrevivência.
A parte do cérebro humano responsável por este processo desenvolveu-se há milhares de anos numa fase inicial da humanidade. Os alimentos eram escassos e a fome era uma séria ameaça à humanidade. Para assegurar que todos os seres humanos que viveram neste período de tempo tinham uma possibilidade de sobrevivência, a natureza estabeleceu nos humanos a ligação entre a comida e o prazer.
O nosso cérebro não consegue detetar a densidade de todos os tipos de nutrientes existentes na comida quando a consumimos. Contudo, o nosso cérebro está ligado para usar três ingredientes como indicadores indiretos para o conteúdo nutritivo dos alimentos que ingerimos – e, assim, senti-los através do palato, recompensando com uma sensação de prazer. Estes três ingredientes específicos são: o sal, a gordura e o açúcar.
Açúcar, sal e gordura
Na natureza, a ocorrência destes três ingredientes é bastante escassa. Mesmo os frutos doces apenas contêm uma quantidade moderada de açúcar quando comparado com um doce ou um pedaço de bolo. Poucos alimentos contêm elevados níveis de sal, como é o caso das algas. Já para não mencionar que até o conteúdo de gordura nos abacates – o fruto conhecido como a “manteiga da selva” – tem no máximo aproximadamente 22% (quando comparado com a manteiga feita de leite de vaca, que contém, em média, 80% de gordura, ou óleos vegetais refinados que contêm até 100% de gordura pura).
Sempre que um dos nossos antecessores há milhares de anos comia um alimento com nutrientes necessários ao corpo, com quantidades pequenas de sal, gordura ou açúcar, o sistema de recompensa no cérebro ativava e assinalava o sentimento de prazer e felicidade. Tal acontecia para que continuasse a comer – e voltasse a consumir aquele alimento assim que este estivesse disponível.
Desenvolvido há muito tempo, este mecanismo continua o mesmo – e continua a funcionar connosco. Na verdade, este é o mesmo mecanismo que acionado quando são consumidas drogas, tais como a cocaína: que ativam o sistema de recompensa no nosso cérebro.
Nos últimos dois séculos, os humanos aperfeiçoaram competências industriais e podemos hoje encontrar facilmente versões refinadas de açúcar puro (cubos de açúcar os xaropes), gorduras puras (óleos vegetais, manteiga ou banha) e sal (o sal comum). Começámos a fabricar e a consumir alimentos com elevados conteúdos de açúcar, gordura e sal, quando so nossos cérebros ainda consideram estes alimentos escassos.
Alimentos prontos para o ludibriar
Atualmente, estamos continuamente expostos a alimentos que acionam o nosso sistema de recomensa, pois contêm quantidades excessivas de gordura, sal ou açúcar.
Particularmente estimulantes para o nosso cérebro são os produtos que contêm combinações de elevadas concentrações de sal, açúcar e gordura ao mesmo tempo. Algumas combinações são tão tentadoras que quando as começamos a comer, é difícil parar. Alguns exemplos de alimentos especialmente desencadeadores do sistema de recompensa são:
• Chocolate (gordura e açúcar)
• Batatas fritas (gordura e sal e açúcar)
• Ketchup e outros molhos produzidos industrialmente (açúcar e sal), especialmente tentadores quando combinados com preparados de carne com elevado teor de gordura, num pão de hamburguer (açúcar e sal e açúcar)
• Batatas fritas com ketchup (sal, gordura, açúcar)
• Frutos secos torrados e salgados (gordura e sal)
• Frutos secos salgados e caramelizados ou envoltos em chocolate (sal e gordura e açúcar)
• Bolos e biscoitos (sal e gordura e açúcar)
• Gelado (gordura e açúcar)
Como consequência da estrutura do nosso cérebro, que serve para evitar que morramos à fome, é fácil acabarmos "seduzidos" por estes alimentos que nos dão prazer em vez de optar por alimentos nutritivos.
O que pode fazer para parar este vício pela comida?
• Não se deixe ficar com fome e desenvolver desejos por alimentos açúcarados. Isto fará com que o cérebro o direcione para alimentos que acionam o sistema de recompensa (alimentos com elevado teor de gordura, sal e açúcar). Assegure-se que tem snacks saudáveis que mantenham níveis de açúcar no sangue equilibrados e estáveis, tais como a Sopa Natural Balance ou o Batido Natural Balance.
• Consuma alimentos naturais que não sejam altamente processados e contenham sal, gordura ou açúcares adicionados.
• Não tenha alimentos "tentadores" (com elevado teor de açúcar, sal e gordura) em casa.
• Tenha em mente que o sal, a gordura e o açúcar podem acionar o sistema de recompensa. Pense nestes três elementos na próxima vez que for às compras – pois irá ajudá-lo a fazer melhores opções.
Mas, mais importante, não sucumba ao pensamento “vou comer apenas um”. Como aprendeu no artigo em cima, o seu cérebro fará com que queira mais.
Referências:
1. JE McCutcheon. The role of dopamine in the pursuit of nutritional value. Physiol Behav, [Epub ahead of print], May 2015
2. U Toepl, MM Murray. Human gustation: when the brain has taste. Curr Biol, 4; 25(9), May 2015
3. DJ Lisle, A Goldhamer. The pleasure Trap: Mastering the Hidden Force that Undermines Health & Happiness. Healthy Living Publications, 2006.
4. ND Bernard. Breaking the Food Seduction: The Hidden Reasons Behind Food Cravings. Griffin, 2004
5. JA Corsica, L Pelchat. Food addiction: true or false? Curr Opin Gastroenterol, 26(2): 165-169, March 2010
6. AA Miguel, SC Woods, M Pelchat, PS Grigson, E Stice, S Farooqui, CS Khoo, RD Mattes, GK Beauchamp. Food reward system: current perspectives and future research needs. Nutr Rev; 73(5): 296- 307, May 2015